O ano de 2024 será extremamente complexo do ponto de vista geopolítico - e já começou, em janeiro, com a derrota da China nas eleições presidenciais de Taiwan, o que aumenta o risco de a ilha ser pivô de um novo conflito mundial.
Várias guerras por disputas territoriais já ocorrem simultaneamente. Também teremos embates eleitorais cujos resultados trarão impactos à economia. Neste caso, estamos falando principalmente do pleito norte-americano, em novembro. Os prováveis candidatos, Joe Biden e Donald Trump, possuem visões divergentes em relação à maioria dos problemas mundiais, e não apenas sobre como lidar com a questão chinesa, mas sobretudo no que concerne aos conflitos entre Rússia e Ucrânia e Hamas (leia-se Irã) e Israel —sem contar a questão do aquecimento global. Também teremos eleições importantes em mais de 70 países, o que deve levar às urnas mais de 2 bilhões de eleitores. Tudo isso torna difícil avaliar qual será o cenário político ao final do ano.
Entretanto, poderá ser uma enorme oportunidade para o Brasil. Afinal, temos uma pauta exportadora de produtos fundamentais para as economias líderes, principalmente em momentos de crise. Batemos nosso recorde de exportações em 2023, como bem mostrou o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), neste mesmo espaço ("O sucesso do comércio brasileiro no mundo", 7/1). O Brasil já é o segundo maior produtor e exportador de produtos agrícolas e alimentícios. Teremos crises mundiais sérias, mas as pessoas vão continuar precisando se alimentar. Quem melhor que o Brasil para ser o principal fornecedor de alimentos nessa hora?
Apesar de todos os problemas, e também por causa deles (sem falar das catástrofes naturais que crescem exponencialmente), o mundo está aos poucos privilegiando comprar de países que se preocupam e dão importância ao tema ambiental. No ano passado, diminuímos em 50% o desmatamento na Amazônia. Nossa energia elétrica vem majoritariamente da água, do sol e dos ventos. Está se consolidando na opinião pública mundial que somos o país da sustentabilidade. Se os europeus realmente levarem a sério a afirmação de que só vão comprar produtos produzidos em países que reduzirem a emissão de CO2, então somos a melhor alternativa.
Do ponto de vista de atração de investimentos, também estamos nos tornando mais atraentes que nossos pares, principalmente na América do Sul. Além de termos o maior mercado consumidor do continente após os Estados Unidos, estamos no processo de redução das taxas de juros, o que certamente fomentará os investimentos produtivos em nosso país. Sem contar que realmente precisamos de ajuda externa para realizar as enormes obras de infraestrutura para uma nação em crescimento. As tentativas fracassadas de golpe mostraram que temos instituições fortes e confiáveis. É o que mais o investidor estrangeiro deseja.
Considerando que as questões geopolíticas vão afetar quase todas as cadeias de valores mais importantes da economia mundial, mais até que no período 2019-20 em razão da Covid-19, precisamos mostrar para as grandes empresas multinacionais que somos a melhor alternativa para elas aqui operarem. Mas essas coisas não caem do céu. Precisamos fazer a lição de casa, que começa por um plano de longo prazo, o que não temos. Qual a estratégia do Brasil para 2030? Ninguém sabe.
Precisamos urgentemente de um plano que possibilite nos afirmarmos nos pontos acima assinalados, mas que também resolva nossos problemas crônicos como a desigualdade de renda e a perda da nossa capacidade industrial. Afinal, segundo o Banco Mundial, somos o país que mais se desindustrializou nos últimos 30 anos. Estamos entre os quatro países do mundo com a maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes.
Ou seja, não faltam desafios para o Brasil, mas, por outro lado, agora poderemos ser o grande supridor de alimentos do planeta. Seria no mínimo estranho e incoerente se, neste momento, cerca de 10% da população brasileira continuasse passando fome. Chegou a hora de resolver também as enormes mazelas sociais e, finalmente, desenvolvermos uma estratégia para o país chegar rapidamente ao papel de protagonista mundial.